terça-feira, 2 de julho de 2013

O leitor compulsivo

Quem na leitura encontra um prazer inadiável, quem faz da leitura uma companhia de excelência, quem sente uma atração irresistível pelos livros – esses sabem que o livro é um objecto único, de culto, mas também sabem quão difícil é suprir a urgência de ler, porquanto no tempo de uma vida (que sempre é tão exíguo) não cabem todos os livros que sentem a necessidade de ler.

O leitor compulsivo quer abarcar o máximo de livros possível – e depara-se com o problema do tempo. E também com o da escolha – tanta a há e tão difícil se torna tomar a opção por ler o último do Mia Couto em detrimento do último do Lobo Antunes, ou vice-versa, até porque ainda não se leu o último do Agualusa, e na estante estão os clássicos – não houve tempo para ler todos os volumes de À Procura do Tempo Perdido, e isso custa ao leitor, mas interrompeu a leitura para dar continuidade ao D. Quixote, que veio na sequência de Édipo Rei, mas entretanto foi inevitável ler os poemas de Sophia.

O leitor que quer abarcar todos os livros sabe que isso não passa de uma ilusão, que poderá apenas ler uma ínfima parcela da extraordinária oferta que há. Que poderá fazer esse leitor para não viver na constante frustração de que nunca conseguirá ler senão muito pouco comparado com o que deseja abarcar? Pode, é óbvio, tomar opções – aliás, tem de tomar opções. Pode tomá-las com base nos seus autores de eleição, pode tomá-las com base nas novidades que vão saindo, pode tomá-las com base nas temáticas, nas épocas literárias, nos géneros, enfim, tem uma vasta possibilidade de se organizar para tomar opções. Mas mesmo que assim organizadamente proceda, o leitor compulsivo nunca vai ler o que tem vontade de ler. Tem, então, de estabelecer prioridades. E, para as tomar, pode proceder de modo semelhante ao que se referiu para tomar opções – até porque as prioridades não são senão opções. Dar prioridade a um livro em detrimento de outro é, para o leitor compulsivo, algo não pouco difícil, dado este, como amante irremediável dos livros, se sentir compelido a tomar vários caminhos: quero ler o Al Berto, quero ler A Montanha Mágica, quero dar continuidade aos contos do Poe, que interrompi porque comecei a ler o Evangelho segundo Jesus Cristo.

O leitor compulsivo será sempre um insatisfeito, nunca tomará as opções e as prioridades mais adequadas porque, para ele, todos os livros são uma opção incondicional e todos os livros são uma prioridade. De facto, o leitor compulsivo tende a ser desorganizado – para além de insatisfeito. O leitor compulsivo é um ser necessariamente frustrado e ansioso, que tem uma meta quimérica.

Todavia, caro leitor desta crónica, onde andam esses leitores compulsivos? São tão raros que, deles falando, se sente talvez já nem existirem, não passarem de um produto da imaginação. Conheci leitores compulsivos: ávidos, com conflitos de fazer escolhas, de estabelecer prioridades, com a frustração de deixar sempre tanto para trás, com a falta de organização que a avidez cria. Gostava de os reencontrar.

Paula de Sousa Lima
Crónica Publicada em Açoriano Oriental, "PRL Presente", 27 de junho de 2013

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Surpresas

Quem esteve envolvido na primeira edição do Concurso Regional de Leitura não mais afirmará que os adolescentes e os jovens não leem; quem espreitou os sorrisos de empenho, o luminoso ar de responsabilidade assumida, a espontaneidade com que consomem a vida nos bastidores, a leveza que trazem nas suas expetativas, a entrega total a mais um momento… quem assistiu, teve uma grande e profunda surpresa:

Porque muitos dos jovens não só leem como arrastam a leitura para o seu universo povoado e urgente; penetram nela com todas as armas da sua crença quase intocada e mergulham nas frases e nas entrelinhas. Apropriam-se das personagens e regateiam diálogos, invocam as suas próprias experiências e discutem a vida à luz do sentimento.

Muitos dos jovens escrevem e falam sobre estas experiências de leitura, de uma forma tão próxima do modo como sabem viver, que as vivificam, as tornam reais e humanas, as dotam de sentido.

Muitos apalparam as frases, a música e o ritmo do texto, muitos fizeram com ele uma canção, uma dança consonante com os seus movimentos, muitos entenderam a diversidade em culturas estranhas e nunca estranharam a humanidade eterna destas outras lonjuras.

E todos eles, sem exceção, estiveram presentes na totalidade do seu compromisso, entregaram-se à magia de uma comunicação que faz pontes entre autores, leitores, interrogações e partilhas. Todos enveredaram com uma seriedade tocante pela senda que conduz ao fascínio das letras.

Estes existem, movem-se no quotidiano, ficam mesmo ao nosso lado, às vezes sem que lhes demos o verdadeiro crédito. Estão à espera de serem aconchegados em pedaços de literatura envolvente, prontos para contagiar outros, inquietos por se prenderem num encantamento.

E entretanto, desde agora, tornaram-se o outro polo de uma liana que nos completa num universo absolutamente necessário, porque trata da comunicação entre a espécie, algo tão essencial ao homem quanto a sua própria natureza.

Sendo assim, o que nos cabe?

Acreditar cada vez mais, embrenharmo-nos num torneio em que eles poderão sempre participar, mostrando-lhes que não falamos numa linguagem estrangeira, que os teremos sempre em conta e respeitando o ritmo da sua curiosidade, da sua sede de palavras entendíveis, que caminharemos ao compasso do seu deslumbramento.

Esperamos do fundo do coração ouvir estas e outras, muitas mais vozes, aquilo que têm a dizer acerca do universo literário, e só ganharemos se o fizermos com disponibilidade, atentamente.

Foi uma surpresa, portanto, aquilo que nos trouxeram, mas também a certeza de que este percurso que os atrai pela beleza, que os forma pelo contato, que os incorpora pelo exercer da competência leitora, é necessário e ainda está incompleto.

Muito, muito gratos, por agora, felicitamos os que vieram e quiseram compartilhar os seus diálogos connosco.

Madalena San-Bento 
crónica publicada em PRL Presente, Açoriano Oriental, 30 de maio de 2013

Não gosto de letras

Estou a escrever-te para dizer que não gosto de escrever nem de ler, aliás, porque me obrigaram a fazer isso da pior maneira, toda a minha vida, e nunca explicaram para que precisava eu de ser submetido a esta violência.

Estou a escrever-te pela primeira e última vez, espero, só para contar como foram os meus fastidiosos momentos na companhia dos livros: foram horas em que o tempo se arrastava por entre a minha aflição de não entender nada, enquanto pessoas que pareciam compreender tudo falavam acerca das palavras escritas e ainda das que lá não estavam, mas que eles garantiam saber que estariam, se os autores tivessem desejado.

Estou a escrever-te sobre a angústia de não nos deixarem escolher sequer uma palavra, um modo diferente de dizer as coisas, sobre a revolta de te obrigarem a ouvir raciocínios numa linguagem que não é a tua e ainda de terem a pretensão de saber sempre o que te fará bem à mente e por isso terá que ser lido, sem nunca, nunca alguém parar para escutar um pouco o que gostaste mais por entre o que foi ouvido, o que sentes que te faz bem à alma.

Estou a escrever-te para me poder revoltar ao menos com alguém, já que até hoje nunca senti que ler ou escrever fosse uma conversa, mesmo quando alguns fragmentos do que lia e por sorte entendia merecessem resposta.

Porque também me ensinaram que deveria aprender a copiar muito os outros (os tais que escrevem de maneira que eu não entendo) e não quiseram nunca saber das palavras que me nascem na mente quando sinto coisas, ou quando as coisas se insinuam em mim.

Talvez que se alguém me contasse, ao invés de mandar ler apenas, se alguém desfolhasse estes livros herméticos primeiro, eu tivesse podido entrar a medo nestes quartos escritos de paredes pintadas e me tivesse encostado a um canto para apenas ouvir o seu som e decidir devagar o que ele consegue fazer vibrar em mim.

Talvez que se alguém apenas oferecesse a canção da leitura, o poder do afago, não da seriedade das palavras, eu tivesse sido cativado pelos decibéis deste som e depois, devagarinho, me ensaiasse a tocá-lo.
Trago a impressão dolorosa que um livro é algo familiar ao contato, que a minha essência humana quer detê-lo, mas há sempre alguém que me convence que só com muito treino e uma enorme habilidade eu conseguirei decifrá-lo e que me devo deixar guiar pelos passos, pelas técnicas, esquecer por ora o natural, o sentimento. 

Mas a verdade é que nada disso aconteceu; estou num reino surdo, onde nasci com a capacidade da comunicação em palavras e não sei ainda o que lhes faço, muito embora elas andem a pular dentro de mim.

Madalena San-Bento
crónica publicada em "PRL Presente", «Açoriano Oriental», 27 abril 2011

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Ler no Salão Nobre

Com o objetivo de promover a leitura e o livro junto da população da Ilha Terceira, realizou-se na tarde do dia 17 de maio de 2013, no Salão Nobre da Secretaria Regional da Educação, Ciência e Cultura, Paços da Junta Geral – Carreira dos Cavalos, Angra do Heroísmo, o evento Ler no Salão Nobre.

Pelas 14 horas, alunos da Ilha Terceira, desde o ensino pré-escolar ao ensino secundário, apresentaram leituras diversas, individualmente e em grupo. Esta sessão contou com a participação de alunos da EBI dos Biscoitos, da EBI da Praia da Vitória, da EBS Tomás de Borba, da ES Jerónimo Emiliano de Andrade e da ES Vitorino Nemésio.

Uma segunda sessão de leitura teve início pelas 18 horas. Convidados para intervir nesta sessão com uma leitura da sua escolha estão José Nuno da Câmara Pereira, Luísa Ribeiro,  Luiz Fagundes Duarte, Margarida Quinteiro, Miguel Monjardino e Paula Cabral.

Programa 

Escola Básica Integrada da Praia da Vitória
Leitura de O Principezinho, de Antoine de Saint-Exupéry, por alunos do 1.º ciclo e pré-escolar.

Escola Básica e Secundária Tomás de Borba 
Leitura do conto «O Pincel Mágico» (in Histórias da D. Esperança), de Heitor Lourenço, por alunos do 5.º ano.

Escola Básica Integrada dos Biscoitos
Leitura de poesia de Vitorino Nemésio pelas alunas Beatriz Duarte, Danía Furk e Madison Parreira (7.º ano) e pelo aluno Davide Pinheiro (8.º ano)

Escola Secundária Vitorino Nemésio
Leitura de O Principezinho, de Antoine de Saint-Exupéry pelo aluno Vasco Leonardo (7.º ano)
Leitura de poesia de Conceição Maciel da obra Maregeia pela aluna Mafalda Ourique (10.º ano)
Leitura do conto «Mulher à porta de sua casa» (in Os Invisíveis), de Ana Paula Inácio, pela aluna Catarina Ferreira (10.º ano)
Leitura do conto «Big Brother isn’t watching you» (in Histórias de ver e andar), de Teolinda Gersão, pela aluna Mariana Reis (11.º ano)

Escola Secundária Jerónimo Emiliano de Andrade
Leitura do conto «Cabeça de Boga» (in Mistério do Paço do Milhafre), de Vitorino Nemésio, pelas alunas Liliana Costa, Madalena Pimentel e Beatriz Afonso (8.º ano)
Intervenção sobre a participação da escola no Concurso Nacional de Leitura pelas alunas Madalena Pimentel, Liliana Costa e Marim Reis (1.º, 4.º e 12.º classificados na fase regional para o ensino básico) e pelo professor Jorge Silva.

José Nuno da Câmara Pereira - Madalena Férin e Armando Emanuel Monteiro

Luisa Ribeiro - Vitorino Nemésio, Caderno de Caligraphia e outros poemas a Marga

Luiz Fagundes Duarte - Natália Correia, Descobri Que Era Europeia: impressões duma viagem à América

Margarida Quinteiro - António Tabucchi, Afirma Pereira

Miguel Monjardino - Tucídides, História da Guerra do Peloponeso

Paula Cotter Cabral - João de Melo, conto «Movimento de partida», in As coisas da alma

segunda-feira, 29 de abril de 2013

Vencedores do Concurso Nacional de Leitura - fase Açores

Madalena Pimentel, aluna do 8.º ano da Escola Secundária Jerónimo Emiliano de Andrade, e Vitória Amaral, aluno do 10.º ano da Escola Secundária Vitorino Nemésio são as finalistas dos Açores, do 3.º ciclo e do ensino secundário, respetivamente, na  fase final do Concurso Nacional de Leitura, que se realiza no fim de maio.

A fase Açores do concurso decorreu na sexta-feira, 26 de abril, na Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Ponta Delgada, e contou com representantes de sete escolas da Região, num total de vinte e sete alunos.



3.º ciclo do ensino básico
1.º lugar - Madalena Pimentel (ES Jerónimo Emiliano de Andrade)
2.º lugar - Ana Rita Ferreira (ES Domingos Rebelo)
3.º lugar - André Costa (ES Manuel de Arriaga)


Ensino secundário
1.º lugar - Vitória Amaral (ES Vitorino Nemésio)
2.º lugar - Diana Faria (ES Vitorino Nemésio)
3.º lugar - Catarina Teixeira (ES Jerónimo Emiliano de Andrade)

Os vencedores tiveram como prenda um tablet e aos segundos e terceiros classificados foram oferecidos livros.

Lista final de classificação - 3.º ciclo do ensino básico
Ilha
U.O
Alunos
Classificação Final
S. Miguel
EBI Vila de Capelas
Rafaela Silva
162
Raquel Alves
147
Tânia Vasconcelos
140
S. Miguel
EBI da Maia
Pedro Henrique Viana Silva
102
Henrique Bulhões
82
Lucília Conceição Melo Costa
89
S. Miguel
ES Domingos Rebelo
Ana Rita Matos Ferreira
353
Rita Silva Correia
162
Gonçalo Pedro Almeida
37
Terceira
ES Vitorino Nemésio
Maria Inês P. Costa
162
Sara Cotter Cabral
154
Ana Carolina M. Barcelos
105
Terceira
ES Jerónimo Emiliano de Andrade
Liliana Aida Cardoso Costa
340
Madalena Gomes Conde Pimentel
360
Martim de Noronha Bretão Coelho dos Reis
145
Pico
EBS Lajes do Pico
Jorge Gabriel Melo
267
Maurício Simas Sousa
142
Pedro Nunes Miguel
157
Faial
ES Manuel de Arriaga
André Costa
349
Bianca Azevedo
144


Lista final de classificação - ensino secundário
Ilha
U.O.
Alunos
Classificação Final
S. Miguel
ES Domingos Rebelo
Beatriz Ambrósio Freitas
217
Sofia Barbosa Machado
86
Aurélio Alexandre Ferreira Sousa
233
Terceira
ES Vitorino Nemésio
Vitória Barcelos Amaral
306
Francisca Correia Dutra
96
Diana Bettencourt Faria
298
Terceira
ES Jerónimo Emiliano de Andrade
Catarina Vieira Câmara Teixeira
276


terça-feira, 23 de abril de 2013

Concurso Nacional de Leitura - fase regional Açores - 26 de abril


Com a intenção de estimular o prazer de ler e a leitura autónoma entre os jovens do 3.º ciclo e do ensino secundário, a coordenação do Plano Regional de Leitura associou-se ao Plano Nacional de Leitura e promoveu pela primeira vez nos Açores o Concurso Nacional de Leitura (CNL), que já vai na sua 7.ª edição.

A 1.ª fase do concurso decorreu nas escolas e os melhores alunos foram apurados para a fase regional mediante a realização de provas sobre as obras escolhidas pela escola para concurso.

A fase regional tem lugar a 26 de abril, no auditório da Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Ponta Delgada, que se associou ao evento, e apura os dois representantes dos Açores (3.º ciclo e secundário) para a final nacional, que se realiza no continente em maio.

São vinte e sete os alunos a concurso - vinte alunos do 3.º ciclo e sete alunos do secundário-, das sete escolas participantes.

Os alunos do básico vão prestar provas sobre os livros Permanências, de Judite Jorge, e  Os da minha rua, de Ondjaki, e os alunos do secundário farão provas sobre Ilha Grande Fechada, de Daniel de Sá, e As intermitências da Morte, de José Saramago.

As provas são constituídas por uma parte escrita, a ter lugar de manhã, com caráter eliminatório, e por uma prova oral com os cinco alunos de cada ciclo que obtiveram os melhores resultados na parte escrita. Na prova escrita, os alunos têm de responder a questões de resposta aberta e fechada sobre as obras lidas, e na prova oral terão ainda de ler passagens dos livros em causa e de argumentar de forma crítica sobre os mesmos.

Os alunos terão ainda a oportunidade de assistir, após a prova escrita, à leitura dramatizada de "O Homem", de Sophia de Mello Breyner Andresen, apresentada pela turma do 9.º A da Escola Secundária de Lagoa.

Os segundos e terceiros classificados de cada ciclo são premiados com livros, enquanto que os primeiros recebem um tablet e a presença na final nacional.

Alunos e escolas participantes:

EBI Vila de Capelas
Rafaela Silva, Raquel Alves e Tânia Vasconcelos (9º).

EBI da Maia
Pedro Silva, Henrique Bulhões e Lucília Costa (7º, 8º e 9º).

BS Lajes do Pico
Jorge Melo, Maurício Sousa e Pedro Miguel (7º).

ES Manuel de Arriaga
André Costa e Bianca Azevedo (7º).

ES Domingos Rebelo
Ana Rita Ferreira, Rita Correia e Gonçalo Almeida, (8º e 7º) e Beatriz Freitas, Sofia Machado e Aurélio Sousa (12º).

ES Vitorino Nemésio
Sara Cabral, Maria Inês Costa e Ana Carolina Barcelos, (8º e 9º) e Vitória Amaral, Francisca Dutra e Diana Faria (10º e 11º).

ES Jerónimo Emiliano de Andrade
Liliana Costa, Madalena Pimentel e Martim dos Reis (8º) e Catarina Teixeira (secundário).

sexta-feira, 5 de abril de 2013

Ler porque…


Se fizermos um inquérito à opinião pública, lançando a pergunta “Considera que é importante ler?”, poucos serão as respostas negativas obtidas. Parece, de facto, consensual que é importante ler. Todavia, se à mencionada pergunta acrescentarmos outra – “Porquê?” –, talvez as respostas se façam ouvir tímidas e periclitantes: “Pois… É importante para tudo… É importante para a gente aprender… Sei lá…”. Pois é: nem sempre é fácil clarificar os argumentos que digam ser a leitura uma tão importante actividade. Mas é-o. 

É-o porque…

Ler, antes de mais, é uma fonte segura para proporcionar conhecimento – todo o tipo de conhecimento. Advindo de um folheto informativo ou (em maior escala) de um romance, o conhecimento que se pode adquirir através da leitura configura-se como inestimável. Dos livros escolares e artigos académicos – que proporcionam conhecimentos mais precisos e especializados –a um romance ou a um poema – que podem facultar conhecimentos mais alargados (sobre a vida, o homem, mas igualmente sobre História, Geografia, Filosofia, Antropologia, entre outros), qualquer escrito se configura como um reservatório de conhecimento(s) que dificilmente se podem adquirir tão consistentemente por outra via. Claro que a televisão, a Net: mas note-se que na Net também se fazem leituras. E não serão necessariamente menos relevante.

Mas ler não é importante só para adquirir conhecimento(s): é-o também para facultar o tão merecido lazer a que dele necessita – e dele, pelo menos de vez em quando, todos necessitam. Ler proporciona o prazer de viajar por outros mundos, por outros estados de alma, por outras sensações, permitindo, assim, a libertação interior que tão necessária é ao ser humano. E, proporcionando lazer, a leitura oferece, quantas vezes concomitantemente, uma reflexão sobre o mundo, o humano, colocando questões que levam a aprofundar não propriamente o conhecimento mas a sabedoria. Do conhecimento ao autoconhecimento, a leitura é uma porta que se nos abre a pouco custo e com muito proveito.

Outra boa razão para ler prende-se com o tão necessário conhecimento não de saberes declarativos ou outros mas da própria ferramenta de comunicação usada nos livros e no quotidiano: a língua. De facto, é através da leitura que se aprende a usar – na escrita e mesmo da oralidade – a língua com proficiência. Furtar-se à leitura redunda sempre – sem exceções – numa dificuldade acrescida de usar corretamente a língua, seja a língua-mãe, seja outra. O desenvolvimento vocabular, a capacidade de produzir uma boa estruturação frásica, o poder de argumentar, tudo isto é saldo positivo – e absolutamente necessário – que se tira da leitura.

E mais? Ler é importante porque… Por talvez tantas outras razões que deixamos à consideração do(s) leitor(es). Aliás, cremos que há sempre uma boa razão para ler – nem que seja matar o tédio, e desta “morte” advirão, certamente, outras mais-valias.

Paula de Sousa Lima

terça-feira, 12 de março de 2013

Semana da Leitura na EBI de Lagoa


Biblioteca da EBI de Lagoa

Semana da Leitura de 18 a 22 de março de 2013

Dia 18 - 14:00 Encontro com as escritoras Alexandra Castela e Elsa Gouveia
Dia 19 - 8:30 “Quem conta um conto…” - Anabela Cura
Dia 20 - 10:20 Encontro com a escritora Joana Medeiros
Dia 21 - 10:20 Encontro com o escritor Filipe Lopes (promovido pela Biblioteca Municipal Tomaz Borba Vieira)
Dia 22 - 10:20 À conversa com um armador /pescador (a confirmar)

Outras atividades a decorrer durante a semana
“Um Mar de Histórias” - trabalhos dos alunos
“A Rede das Citações” - trabalhos dos alunos
"Mar arte" - Exposição de fotografias, artesanato ...
"Pintar o mar" - Que desenho farias para a capa deste livro?

segunda-feira, 11 de março de 2013

Semana da Leitura na EBI de Capelas


PROGRAMA DE ATIVIDADES – EBI de Capelas
Toda a Semana
1 – “Feira do Livro Usado”
2 – Distribuição de um panfleto sobre a importância da leitura
Hora – Todo o dia
 
Dia 18 – A Leitura, o Mar e… as Pessoas
1 – Encontros com … gente do mar:
a)      Paulo Amaral, responsável pelo farol da Ponta Garça
b)      Mário Leandro e João Garoupa, aventureiros
c)      Daniel Castro, pescador/armador
2 – Exposição de livros – 10h20
 
Dia 19 – A Leitura, o Mar e… a Escola
1 – Concurso de Problemas (Matemática)
2 – Conversa com … Irene Oliveira, autora de Uma Fonte de Esperança – 10h30
3 – “5 Textos, 5 Dias”/A Menina do Mar (Português) – 10h30
4 – Sessão de teatro: Auto da Índia Pequenino (Expressão Dramática) – 10h20 e 11h05
 
Dia 20 – A Leitura, o Mar e… as Artes
1 – “Mar à Mesa” – Exposição
2 – Entrevista com … Mestre Tomaz Borba Vieira (vídeo) – Todo o dia
3 – A hora do Conto – das 10h20 às 11h00
4 – Exposição de desenhos/pinturas alusivas ao mar  – Todo o dia
5 – Sessões de cinema:
5º ano – “O Gang dos Tubarões” – 09h00
6º ano – “20 000 Léguas Submarinas” – 11h05
3º Ciclo – “A Tempestade” – 14h00
 
Dia 21 – A Leitura, o Mar e… a Poesia
1 – Desfile de palavras
2 – Recital de Poesia – 10h00
3 – Itinerário de Poesia – todo o dia
 
Dia 22 – A Leitura e o Mar
1 – Para a Ler!  – 08h30
2 – Exposição de Livros sob o tema do Mar – todo o dia
3 – Marcha pela Vida, Jovem – 09h00 às 11h00
4- Entrega de diplomas e prémios
5 – Sessão de encerramento com atuação ao vivo de:
- Professora Conceição Ponte
- Professora Patrícia Bettencourt
- Dina Pereira
- Inês Aguiar
Com o acompanhamento do Professor Ricardo Melo
Hora: 11h30

Semana da Leitura na EBI de Ponta Garça


PROGRAMA

20 de fevereiro (quarta-feira)
- 10: 30 – Encontro com o autor/escritor Heitor Lourenço.
 
11 de março (segunda-feira)
- 09: 00 - Abertura da Feira do Livro.
- Concurso “O Marcador de Livros Mais Original”.
- Início do Concurso “ Ler e o Mar”.
- Visita das turmas à feira.
 
12 de março (terça-feira)
- 09: 15- Abertura da Feira do Livro.
- Visita das turmas à feira.
 
13 de março (quarta-feira)
- 09: 15- Abertura da Feira do Livro.
- Visita das turmas à feira.
 
14 de março (quinta-feira)
- 09: 15- Abertura da Feira do Livro.
- Visita das turmas à feira.
 
15 abril (sexta-feira)
- 09: 15- Abertura da Feira do Livro.
- Visita das turmas à feira.
- 13:00 – Encerramento da Feira do Livro.

Semana da leitura na EBS do Nordeste


Semana da leitura na ES Manuel de Arriaga


terça-feira, 5 de março de 2013

Semana da Leitura 2013 nas escolas

As escolas dos Açores preparam-se para a Semana da Leitura 2013

 Escola Secundária Manuel de Arriaga - Horta

Escola Básica e Integrada da Ribeira Grande
autor: Nuno Pequeno (professor de Educação Visual e Tecnológica)

segunda-feira, 4 de março de 2013

Um amor feliz


Pela idade em que lia um livro da colecção “Os Cinco” por dia, havia de ter dez anos, não mais, foi parar à minha biblioteca, certamente comprado pela minha mãe, um livro muito especial. Não sabia de tal quando o vi; não sabia de tal quando o comecei a ler; creio que já o sabia quando a sua leitura se tornou um encantamento para mim; sabia-o já quando terminei de o ler e as personagens, os seus pequenos dramas familiares e pessoais, os espaços onde se moviam, o tempo da sua existência, tudo isto tomou lugar cativo na minha própria existência, como se aquele mundo fosse um mundo paralelo ao meu, tão vivo e tão real como o meu; sei-o agora com toda a segurança – aquele foi/é (é certamente) um dos livros mais marcantes da minha vida.

Foi um amor feliz – é um amor feliz, pois os amores felizes fazem sempre parte do presente, não se esquecem, não sucumbem à passagem do tempo, não são relegados nem substituídos. Depois de muitos anos se passarem, Mulherzinhas, de Louisa May Alcott, não deixou de ter o mesmo lugar de honra no meu coração, e é com ternura que recordo daquele primeiro amor. E penso: o primeiro amor – se feliz – mantém-se inalterado, conserva sempre o viço da juventude com que foi vivido; a ele podem seguir-se outros, tão ou mais fortes, mas que não o rasuram; o primeiro amor tem a candura de algo que escapa ao tempo e que, de forma latente, está presente em todos os tempos posteriores da nossa vida. Guardei Mulherzinhas na estante. Não o reli. O primeiro amor só se vive uma vez, depois recorda-se, e nessa recordação permanece inalterado. Reler Mulherzinhas em idade madura podia ter um efeito perverso, pois a minha alma já não tem o olhar cândido que me fez apaixonar pelo livro. Guardei Mulherzinhas e vivo ainda aquele primeiro amor feliz.

De outros amores felizes se foi tecendo, ao longo dos anos, a minha relação com os livros: A Relíquia, de Eça de Queirós, O Tempo e o Vento, de Érico Veríssimo, A Insustentável Leveza do Ser, de Milan Kundera, A Montanha Mágica, de Thomas Mann, Cem Anos de Solidão, de García Márquez, Evangelho Segundo Jesus Cristo, de Saramago, Nenhum Olhar, de José Luís Peixoto, a poesia de Sophia ou de Safo. E outros, tantos outros amores felizes. Os livros não nos desiludem senão de forma clara e frontal, e pomo-los de lado. Acabou, nem sequer chega a ser um amor infeliz. Simplesmente um amor que não é. Ou um amor feliz, que, sendo o segundo ou o quinquagésimo, não rivaliza com os demais. Os livros são amores acumuláveis e que não se esgotam com o passar do tempo, com quezílias ou com traições. Não nos abandonam nem se furtam ao nosso amor.

Hesitei perante a escrita desta crónica na primeira pessoa, falando de um amor tão particular. Estive para carregar na tecla Delete. Mas mantive-a – como mantive o meu primeiro amor: um amor feliz, que sempre me fará falar de Mulherzinhas de forma emocionada. Deixo um depoimento. Talvez faça eco nos corações que viveram ou querem viver amores felizes.

Paula de Sousa Lima

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Vitorino Nemésio celebrado na ES Jerónimo Emiliano de Andrade


O departamento de Português e Línguas Clássicas da Escola Secundária Jerónimo Emiliano de Andrade vai realizar nos dias 18, 19 e 20 de fevereiro uma série de iniciativas para assinalar o 35.º aniversário da morte de Vitorino Nemésio, com o objetivo de dar a conhecer a obra literária do eminente escritor, desenvolver a cultura literária dos intervenientes na comunidade educativa e promover o conceito de açorianidade junto dessa comunidade.

Das atividades previstas constam uma exposição sobre a vida e a obra de Vitorino Nemésio, acompanhada de um questionário de visita à exposição e da redação de um texto biobibliográfico; uma exposição de obras de Nemésio; o estudo, nas aulas de Português, de poemas, textos narrativos e crónicas da sua autoria; a leitura pública de um conto ou uma crónica do autor e a distribuição de poemas e de excertos de textos narrativos nemesianos.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Regulamento do Concurso Nacional de Leitura - fase Açores

Trinta alunos de diversas escolas da Região vão estar presentes na fase regional do Concurso Nacional de Leitura, que se realiza no auditório da Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Ponta Delgada, no dia 26 de abril. São 21 alunos do 3.º ciclo e 9 alunos do ensino secundário, das sete escolas participantes (ES Manuel de Arriaga, ES Domingos Rebelo, ES Jerónimo Emiliano de Andrade, ES Vitorino Nemésio, EBS Lajes do Pico, EBI da Maia e EBI de Capelas).

As provas dos alunos do básico são sobre as obras Permanências, de Judite Jorge, e  Os da minha rua, de Ondjaki, e os alunos do secundário farão provas sobre Ilha Grande Fechada, de Daniel de Sá, e As intermitências da Morte, de José Saramago.

Os alunos vencedores de ambos os ciclos estarão presentes na fase final do Concurso Nacional de Leitura, em representação dos Açores.

O regulamento da fase regional do Concurso Nacional de Leitura pode ser consultado aqui.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Um Livro entre nós


O que há hoje para ler?

E o ideal seria, aquilo que perseguimos, que esta fosse uma pergunta habitual, frequente, recorrente, tal como se indaga sobre o cardápio para o almoço ou para o jantar; não só nas nossas escolas como também no interior das casas, no seio das famílias, dos convívios e das associações.

Que ler seja quotidiano como um hábito, natural como uma necessidade, vital como um anseio premente. E isso acontecerá apenas através do manuseamento, da frequência e da desmistificação. É certo que as escolas têm que multiplicar-se na condução à leitura como uma porta aberta para todo o currículo e como um meio de diversão; as famílias terão de educar com a presença usual do livro e a sociedade terá de abrir espaço para que a palavra escrita caiba eficaz e continuadamente dentro das suas práticas.

Ao abordar um plano por vezes esquecemo-nos de tracejar os limites do que se há-de inserir dentro dele e por vezes este descuido custa-nos o granjear adeptos. No caso da leitura convém aceitar um universo bem vasto das coisas que se escrevem, o que não significa necessariamente descurar a qualidade; apenas ser mais ecléticos nas escolhas, menos rígidos nos conteúdos, nas temáticas e nas proveniências.

Porque ler é, primeiro que tudo, aprender a receber a mensagem, a reagir a ela e (ainda que mudamente) a comunicar. Aprender a estar bem aberto para um universo muito, muito vasto, que é sempre humano, no entanto, e donde navegam experiências, dimensões, sentimentos e ideias – ideias sobre as coisas, das quais é possível participar.

Porque infelizmente, é possível ler e ficar de fora, ainda que não seja esta uma eficaz leitura.

Porque, pelo menos no início, há que escutar o que o ser de cada um anseia para o conciliar com a leitura, para o viciar nela.

E o resto, sim: será um mundo que se abre, sem fronteiras nem limites. Um mundo que trará os clássicos mas também os recentes, os inovadores, os que se escrevem dentro de casa e os que se evadem dentro da alma, a criar um gosto, uma sensibilidade e um conhecimento.

É verdade que também não nos iniciamos na comida apenas ingerindo as criações de grandes chefes (talvez o nosso paladar ainda não reconhecesse a sua inegável qualidade e acabaríamos por nos enjoar com elas) nem se aproxima um recém-nascido da música senão através de sons muito simples e facilmente reconhecíveis dentro do universo que lhe é atraente e familiar: assim mesmo levaremos as pessoas à leitura – utilizando o fio da sua identificação e da sua preferência – a infalível teia humana do reconhecimento.

Madalena San-Bento